segunda-feira, 24 de junho de 2013

Déficit de atenção em crianças!


Imagine alguém assim: Renata sempre foi uma criança inteligente, mas pra lá de desconcentrada. Aos 8 anos, perdia tudo na escola: livros, lancheira, a sapatilha do balé... E essas perdas - quase diárias - eram insistentemente narradas todas as noites (três, quatro vezes) à sua mãe, quando esta chegava do trabalho. Aos 11 anos, a menina vivia perdendo a condução escolar e, na hora de ir para o curso de Inglês - que era bem perto de sua casa - também se perdia pelo caminho. Em passos lentos pela calçada, ficava olhando as vitrines e, em vez de levar dez minutos para chegar, costumava aparecer por lá uns 40 minutos depois, quando a aula já estava quase terminando. Por outro lado, a menina era dona de um aceleramento sem igual: quando resolvia estudar, aprendia conteúdos extensos em pouquíssimo tempo, às vezes simultaneamente aos avanços nos games em seu computador. Na pré-adolescência, um evento memorável (ou seria "sem memória"?): Renata perdeu o avião que a levaria, junto com os colegas, para uma viagem inesquecível.
Hoje, no entanto, Renata é uma socióloga respeitada no meio acadêmico. Foi feito um tratamento adequado - e a psicoterapia ainda faz parte de sua rotina. Quando a filha tinha 12 anos, Dona Marta procurou bons especialistas, que detectaram o problema: TDAH (DDA). Saiba mais sobre a famosa síndrome.
O que é TDAH (DDA)
De acordo com o IPDA - Instituto Paulista de Déficit de Atenção, o TDAH - Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade - é um conjunto de sintomas caracterizado por distração, hiperatividade e impulsividade, além de tendência à desorganização e ao esquecimento.
Pessoas que apresentam esse quadro costumam perder a concentração nas atividades, mostrando-se agitadas e, muitas vezes, com problemas para fazerem uma coisa até o fim. Assim, é comum deixarem suas tarefas pela metade, já que se desconcentram muito e vão fazendo uma espécie de "adiamento crônico" das situações de rotina.
Siglas / denominações
TDAH, TDA, ADD, DDA... Todas estas siglas e algumas outras referem-se aos aspectos essenciais que caracterizam o conhecido Transtorno de Déficit de Atenção (com ou sem Hiperatividade), o que se pode definir como Transtorno ou Distúrbio; daí a alternação T / D.
DDA - Distúrbio de Déficit de Atenção - é a sigla mais antiga (de certo modo, menos usada hoje), porém ainda a mais conhecida pela maioria das pessoas.
DDA / TDAH em crianças
No caso específico de crianças, o psicanalista Carlos Eduardo Leal - em seu know-how de mais de 30 anos de carreira - enfatiza que elas são bastante irrequietas, dispersando-se com muita facilidade. Ele lembra ainda que certo grau de hiperatividade é até saudável e, mesmo, desejável nos pequenos; e que nem sempre uma criança arteira é necessariamente hiperativa. É preciso observar essas fronteiras de ação.
Frequência dos sintomas e consequências
A psicóloga Cláudia Puntel ressalta que uma criança com DDA, geralmente, tem experiências de frustração, alheamento e até mesmo tristeza. Segundo ela, é muito comum que essas crianças percam seus casacos ou brinquedos na rotina da escola, por exemplo.

Outro aspecto recorrente é a dificuldade de aprendizagem várias vezes demonstrada, mesmo diante de bom potencial intelectual. A questão é que - apesar da consciência de poder realizar uma tarefa - a criança não consegue mesmo completá-la ou se concentrar suficientemente para as avaliações. E é a partir daí que estudar pode se tornar algo traumático, já que (não raramente) acontecem situações de revolta.
Como identificar o problema nos pequenos
Leal esclarece que é possível detectar DDA / TDAH em crianças que apresentam não só desconcentração como também dificuldade de socialização. E completa: "Em geral, são ciclotímicas, ou seja, podem ser tímidas ou muito expansivas. A falta de limite também é outra característica marcante".
O contexto familiar
Cláudia Puntel fala da dúvida que às vezes toma conta dos familiares, que ficam sem saber se a criança tem, apenas, um problema com relação a limites ou se existe, de fato, uma questão emocional mais grave, a qual caracterizaria a doença. "Paralelamente a isso, às vezes o DDA é potencializado por situações de conflitos familiares", completa a psicóloga, diante de sua experiência como terapeuta de família.
O psicanalista Carlos Leal por sua vez, manifesta que a família não costuma estar preparada para as dificuldades ou os sintomas de uma criança com certas características: "Querer filhos absolutamente perfeitos é o esperado", destaca. O especialista refere-se a um conceito equivocado do mundo de hoje: a ideia de que qualquer problema possa ser considerado um fracasso, como se todos tivessem que ter sucesso sempre, em tudo, até mesmo em questões de saúde e comportamento.
Conscientização e atitude da família
Carlos Eduardo Leal alerta ainda que - quando se reconhece o problema - a melhor coisa a fazer é buscar logo a ajuda de especialistas indicados para o caso: um psicanalista e um psiquiatra infantil. Ele completa: "A família deve ter muita calma, conversar bastante com o filho e procurar sempre ajudá-lo emocionalmente".
Alertas do psicanalista em relação à criança com TDAH (DDA):
- Nunca colocá-la "para baixo";
- Não compará-la com outras crianças ou com os demais filhos dizendo que ela tem que ser igual. Cada um é o que é;
- Ao brigar com uma criança com esses traços comportamentais você só estará discriminando e piorando seus sintomas. Elogie-a e estimule-a a vencer as dificuldades.
Tratamento
A psicóloga dá suas orientações de como cuidar da patologia, informando que o tratamento abrange atenta psicoterapia. Ela ressalta: "A inclusão da família é fundamental, já que a criança faz parte de um sistema maior que precisa estar funcionando bem para que ela não seja um sintoma".
Cláudia Puntel também sugere uma avaliação médica com um neurologista ou um psiquiatra. Segundo ela, ainda, o uso de medicação pode ser imprescindível pelo nível do DDA/TDAH e/ou de sofrimento por ele causado.
De um modo geral, a Associação Brasileira do Déficit de Atenção - ABDA indica a forma de tratamento dita multimodal, isto é, uma condensação de uso de medicamentos, orientação psicológica e ministração de técnicas aos portadores da doença. A psicoterapia recomendada para o tratamento do TDAH é a terapia cognitivo-comportamental. A associação lembra, ainda, a necessidade de fonoaudiólogos nos casos em que haja, ao mesmo tempo, transtorno de leitura (dislexia) e transtorno da expressão escrita (disortografia).

Ivanete Knaepkens

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